Como ter INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA VIAJANDO: o sonho da viagem LIVRE e SUSTENTÁVEL $$
O tema “dinheiro” é sempre considerado importante, e é polêmico. Fizemos uma enquete em nosso Instagram e a pergunta vencedora foi: como ter independência financeira viajando?
Confira no vídeo ou, se preferir, no texto a seguir:
Olha, entendemos bem sobre esse tema pois vivemos como nômades desde 1998. De qualquer forma, talvez você fique surpreso com a resposta.
Mas vamos lá, será que dá para ter independência financeira viajando?
Acreditamos que sim, nós somos nômades faz anos e somos um exemplo de que é possível. Mas será que viajar e trabalhar é mesmo o melhor equilíbrio?
Bem, não é à toa que meu livro se chama “No Guidão da Liberdade”. Conforme eu viajava, na volta ao mundo de bicicleta, meu conceito de liberdade foi se aprofundando e ampliando. Foi nessa época que melhor percebi o quanto posso ter o controle sobre o guidão da minha liberdade.
Eu gastava realmente pouco durante a viagem e, dessa forma, consegui quebrar com a equação “tempo X dinheiro”, a qual parece que todos nós sempre estamos presos. Quando somos jovens, temos tempo, mas não temos dinheiro. Já mais velhos, temos dinheiro, mas quase sempre não conseguimos separar tempo para realizar nossos sonhos. Como eu gastava tão pouco, o dinheiro era irrelevante, e pude viajar muito além do que imaginava. Pra ter uma ideia, eu passei 10 meses na Europa com 1500 U$ (clique aqui para ler mais sobre quanto custa viajar de bicicleta).
Por outro lado, para desfrutar da liberdade, além de possuir os meios materiais (algum dinheiro), temos também que desenvolver a real percepção destes meios. Eu não pensava em me sustentar viajando na volta ao mundo, eu queria fazer uma grande viagem e ir o mais longe que pudesse, até chegar no Brasil novamente. Reconheço que gastei pouco, nunca soube de ninguém que gastasse menos que eu em uma viagem equivalente.
Existe uma grande diferença entre viajar livremente e trabalhar enquanto viaja.
Se você tem um patrocinador, terá que prestar contas a ele. Se tiver que sustentar um canal do YouTube, terá muito trabalho para produzir conteúdo. E para que serve isso? Para garantir seu sustento, certo? Quando você pensa em viajar, por acaso está procurando algo como um emprego garantido ou começar um negócio? Ou você quer mesmo é fazer uma grande aventura de bicicleta?
Uma das coisas que aprendi é que a liberdade verdadeira sempre envolve riscos. Tem uma música do Titãs que diz “você já passou um dia, um mês, um ano sem fazer nada”? Eu já… Este “não fazer nada” tem a capacidade de gerar mudanças reais. Como diz Lao Tse, somente quando esvaziar toda a água suja de um copo é que você poderá ter água limpa nele.
Claro que tudo gera tensão, se você não tem dinheiro do outro lado do mundo, ou se você tem que mostrar serviço para um patrocinador, ou gerar conteúdo para o YouTube, tudo pode ser tenso. Entretanto, a experiência de se propor a viver com certo valor em dinheiro pela maior quantidade de tempo que puder é mais libertadora do que tentar satisfazer um patrocinador, ou um algoritmo, que é feito para te aprisionar.
Uma volta ao mundo é, para mim, algo único. Fico feliz que aproveitei ao máximo cada minuto em que estava viajando, sem me preocupar em produzir trabalho ou dinheiro.
Por outro lado, sempre tem alguém que nos pergunta se dá para viajar sem dinheiro…
Podemos tomar como exemplo os Sadus, na Índia, que vivem assim. Se você vive sem dinheiro, fatalmente estará a mercê da caridade, e podemos garantir que o mundo é muito caridoso, principalmente aqui na América do Sul. Entretanto, isso vai novamente privar sua liberdade, afinal, estará sempre dependente da caridade alheia para tudo.
Pregunto: Você quer isso? Você precisa disso? Você está preparado para devolver ao Universo o que lhe será dado?
Lembre-se que, muito provavelmente, quem vai lhe ajudar são as pessoas mais humildes e simples, que terão mais empatia por você e por sua opção de viagem. Eu até hoje tento devolver ao Universo o que recebi na volta ao mundo, mas ainda sinto que estou em débito…
Por outro lado, percebo que alguns cicloturistas, mesmo sonhando em fazer viagens para outros continentes, não conseguem sair da América do Sul. Nós acreditamos que cada um tem a capacidade de realizar seus sonhos, desde que eles sejam reais, genuínos. Entretanto, notamos que alguns se acostumam tanto a viver com o que lhes é dado que acabam perdendo a capacidade de protagonismo, não conseguem juntar dinheiro o bastante para sair de uma região generosa e cômoda como a América do Sul, onde falamos uma língua semelhante e quase sempre estamos vizinhos de casa.
Fundamentalmente, acredito que fui capaz de viajar tanto com tão pouco dinheiro porque aprendi a viver com os riscos inerentes à liberdade.
Mas… E pra quem pensa em trabalhar enquanto viaja?
Especialmente nesse caso, acreditamos que seja ainda mais importante viajar livremente de bicicleta para, quem sabe um dia, você perceber qual é sua missão, em que tipo de ofício seu coração bate mais forte. Se você descobrir isso, fatalmente será alguém bem-sucedido, pois sua disposição e força para realizar seu trabalho serão imensas.
Alguns querem viajar e viver uma experiência em outro país. Em vez de encarar isso de frente, muitas vezes com temor de perder algo como status ou aprovação dos amigos e familiares, procuram uma forma de fazer um Doutorado no exterior, mesmo que nunca tenham tido vontade de se dedicar à pesquisa, e acabam nem concluindo a tese. Me pergunto se não seria mais proveitoso empenhar o tempo e o dinheiro gasto em uma bela aventura pelo país escolhido.
Depois que cheguei da volta ao mundo, eu senti que queria divulgar o cicloturismo no Brasil, essa era minha missão. Faz mais de 25 anos que trabalhamos com isso, já escrevemos 10 livros e planilhamos mais de 7 mil quilômetros de rotas de cicloturismo no Brasil, desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, além de reportagens para revistas, TV, e YouTube. De fato, isso é o que decidimos realizar como trabalho.
Mas como chegamos a isso?
Bem, é uma longa história, que pretendemos contar com mais detalhes em outro texto e vídeos de nosso Canal do YouTube. Mas saiba que trabalhamos muito, de forma muito séria, e a lucratividade do nosso trabalho é bem baixa. Seguramente seríamos mais ricos como advogado e arquiteta, mas fizemos a opção de trabalhar com o que compreendemos ser nossa missão.
Veja que continuamos viajando, e a viagem não é um trabalho. Na maior parte das vezes não temos patrocínio, não precisamos cumprir um projeto, nem fazer posts, vídeos ou textos. Só depois, na volta, é que vamos digerir a viagem, e desta digestão nascem os livros, matérias e documentários. Essa é a forma que encontramos de viver plenamente nossa independência e liberdade dentro da viagem.
Em atividade desde 1997, nosso Projeto é desenvolvido com recursos próprios, ou seja, é patrocinado por você, cicloturista e leitor, que adquire os guias e livros e divulga o Projeto.
Ajude-nos a divulgar o cicloturismo nas redes sociais: