MANUTENÇÃO NA VIAGEM
MANUTENÇÃO NA VIAGEM
Matéria publicada na REVISTA BICICLETA – Edição 50 – abril/ 2015 .
A bicicleta que utilizei na volta ao mundo rodou quase 50 mil quilômetros. Não posso deixar de imaginar que, se fosse para comprar um automóvel com essa quilometragem, teria que dar uma boa olhada antes de fechar o negócio. Motor, câmbio, embreagem, suspensão, bateria, lataria, portas… Tantos detalhes ocultos que podem nos deixar na mão. As concessionárias automotivas costumam oferecer promoções de revisão de férias, com um sem número de itens para o motorista poder viajar sossegado até a praia mais próxima. Mas quais seriam os itens essenciais a se verificar na bicicleta para uma viagem? Ao contrário de um carro, uma bicicleta se mostra toda sem mistérios para quem estiver disposto a observá-la com o mínimo de atenção.
Levante cada roda e impulsione-a suavemente com a mão para conferir se o freio está pegando. Basta olhar as sapatas ou pastilhas de freio para perceber seu desgaste. A corrente também está lá, exposta, e qualquer um pode perceber quando fica suja. Mesmo sem olhar, só pelo ruído, dá para saber que falta lubrificação.
Geralmente enquanto estou numa parada de descanso, aproveito para observar se tudo está de acordo, se nada está quebrado ou solto. Verifico cada parafuso, pois eles podem ir se soltando. Uma folga num parafuso pode rompê-lo ou causar a quebra de outra peça como, por exemplo, o bagageiro que se apoia nele.
Após pedalar por rodovias, sempre observo os pneus a fim de retirar pequenos cacos de vidro que se prendem à borracha e que vão penetrando aos poucos até atingir a câmara de ar.
O maior medo de quem possui um carro velho é ligar o motor e o mecânico dizer “está batendo válvula”, ou “a biela deve estar gasta”, ou ainda pior: “parece que tem um ruído no mancal do braço superior da rebimboca da parafuseta. A única saída é abrir para verificar”…
Numa bicicleta não é preciso ter ouvido de violinista para detectar problemas, pois os rolamentos são as únicas partes que podem oferecer obscuridade e/ou complexidade na observação de seu desgaste. Para evitar surpresas, teste periodicamente os rolamentos de sua bicicleta.
Cubos de pedal, cubos de roda, movimento central e caixa de direção, cada rolamento deve ser girado separadamente para saber seu estado de funcionamento. Tudo deve rodar livre e suave. Quando enrosca, pode significar sujeira ou desgaste. Se o rolamento for selado, deverá ser substituído, caso contrário poderá ser aberto, limpo e engraxado.
Os rolamentos não podem ter outro movimento além de rodar. O chamado “jogo” é uma folga causada pelo desgaste ou por falta de aperto, neste último caso, poderá gerar desgaste prematuro. Para verificar a folga no rolamento de roda, segure o aro com a mão e force de um lado para o outro como se estivesse tentando encostar o aro no garfo. No caso do rolamento de direção, é só empurrar a bicicleta para frente e para trás com o freio dianteiro acionado. A folga no movimento central é imediatamente perceptível, pois a coroa começa a jogar de um lado para o outro enquanto pedalamos e tende a encostar no passador de marchas.
Quando as esferas, as bacias ou os cônicos (componentes do rolamento) estão desgastados, aparecem pequenos buracos que impedem o aperto correto. As esferas são as mais fáceis de substituir. Durante uma viagem, nem sempre conseguimos trocar os cônicos ou as bacias, nesse caso, optamos por deixar uma pequena folga extra no rolamento para que se mantenha rodando livremente.
Limpar os rolamentos de roda é uma manutenção que costumava fazer a cada seis meses na volta ao mundo.
Aprendi a fazer a manutenção dos cubos quando ainda era criança, mas no começo da viagem de volta ao mundo esse trabalho tomou outra dimensão, permitam-me contar essa história…
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