O paradigma do medo na aventura
O paradigma do medo na aventura – a experiência na Cachoeira do Palmital
Estamos em Timburi, no interior de São Paulo. Esta é uma das cidades que fazem parte de nosso Circuito de Cicloturismo Paranapanema-Itararé (as informações para percorrer este circuito estão disponíveis em nossa loja virtual – clique aqui para saber mais).
Acabamos de gravar um vídeo para mostrar a cachoeira do Palmital, uma das belezas naturais da cidade. Nela vivi uma experiência forte, que me trouxe um grande aprendizado, bem no começo da minha vida de nômade.
O vídeo é este aqui. Contudo, se preferir, pode ler sobre minha experiência e o paradigma do medo na aventura no texto a seguir:
Minha vida toda foi na cidade. Embora eu gostasse do “ar” do campo, de visitar amigos que moravam no interior e no sítio, minha conexão sensorial estava intimamente ligada à minha experiência urbana de cidade grande.
Sentia em mim uma vontade de desbravar a natureza, por isso, volta e meia, inventava uns passeios, inclusive de bicicleta. De qualquer forma, eles eram sempre em ambiente controlado, preparados para a presença de humanos, com alguma trilha ou estrutura de apoio.
Desbravando a natureza
Quando efetivamente me tornei nômade e passei a morar com o Olinto no motor home, no início de 2008, nós estacionamos um tempo aqui em Timburi.
Enquanto o Olinto terminava de escrever a história do livro 7 Passos Andinos, eu finalizava alguns trabalhos que ficaram pendentes com o escritório de Arquitetura e nós treinávamos para nossa primeira viagem de bicicleta juntos, pela Finlândia. Ao mesmo tempo, o Olinto me levou para conhecer alguns lugares especiais por aqui.
É muito bom quando a gente chega num lugar como estes, onde o turismo de massa ainda não dominou. Temos a possibilidade de viver a realidade da natureza e desfrutar dela como se ela fosse só nossa, pelo menos por um dia. Certamente nessa situação os aprendizados se potencializam.
Um dos lugares que visitamos foi a Cachoeira do Palmital. Saímos de bicicleta pela estrada de asfalto, depois terra, até chegarmos em um ponto onde o Olinto comenta – vamos deixar as bicicletas e seguir caminhando, “acho” que é por aqui…
Esse “acho” soou meio estranho, porque começamos a entrar em um mato alto, não dava pra saber se ele estava certo do que estava fazendo…
Essa incerteza, de alguma forma, ia de encontro à minha sede de aventura e, apesar da tensão, eu estava contente por me sentir enfrentando uma espécie de desafio, “desbravando a natureza”.
O caminho e o medo
Apesar da grandiosidade e beleza da cachoeira, como ela não era explorada turisticamente, a trilha praticamente tinha desaparecido. Depois de andar um tempo pelo mato, conseguimos alcançar a margem do rio e seguimos subindo o rio, caminhando de pedra em pedra. Isso para mim foi o auge da aventura até então.
Eu nunca havia me imaginado nessa situação, era como se eu voltasse ao primitivismo da humanidade, sem motor, sem asfalto, sem trilha. Nessa hora muitas coisas vem à mente… Começamos a buscar referências do que conhecemos para nos sentir confortáveis.
As únicas referências que eu tinha de uma situação como essa era de filmes de terror e de suspense, onde a mocinha se esforça para fugir do perigo, escorrega na pedra, bate a cabeça e morre. Isso causou um certo desconforto, e tive que ir me controlando para não me apavorar.
No final, o prêmio, o visual deslumbrante dos 60 m de queda d’água. A verdadeira visão do paraíso na Terra, só para nós.
O paradigma do medo na aventura
Não é a toa que nós sempre incentivamos as pessoas a darem os passos para realizar seus sonhos de aventura.
Posso dizer que esse dia ajudou a consolidar uma grande quebra de paradigma da minha forma de me ver no mundo. A compreensão de que grande parcela do medo que senti veio da minha falta de experiência ampliou a noção que tinha de minha força física, mental e de minha capacidade de realização.
Acreditamos que o medo serve para nos proteger – sem experiência, se eu não tivesse medo, talvez poderia realmente ter me machucado nas pedras ou no mato.
Como um paradigma, o medo é uma linha de aviso a ser superada a cada aprendizado, e o aprendizado só vem quando nos permitimos expor à experiência.
Quando nos propomos a nos expor ao desconhecido, à aventura, precisamos tomar riscos e enfrentar o medo. Estudar as situações pelas quais pretendemos passar e compreender de onde vem o medo, nos trará a consciência necessária para que possamos viver uma aventura sadia e engrandecedora.
Felizmente no retorno encontramos a saída da trilha e seguimos por ela. Mesmo ela estando com mato alto, foi bem mais fácil do que caminhar sobre o rio e quebrar o mato no peito 😉
Este e outros lugares só pra você
E se você quiser visitar este lugar, a gente está preparando um circuito nessa região. As informações serão oferecidas para os Membros do Canal e do Apoia-se que assim desejarem.
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