PRIMEIRA MATÉRIA sobre nossa viagem pelo ORIENTE MÉDIO

Assim que chegamos de nossa viagem pelo Oriente Médio, escrevemos para os amigos e colegas cadastrados em nosso mailing avisando das novidades que aconteceram enquanto estivemos viajando. Prontamente o bike repórter André Piva, do Canal Bike na Mídia, nos respondeu:

– Olá Olinto e Rafa, bem-vindos de volta! Vamos produzir juntos essa pauta sobre a última viagem? Pensei em destacar primeiro o Irã. Enfim, seguem algumas perguntinhas…

Vimos nessa entrevista uma oportunidade de imediatamente escrever um pouco sobre o que vivenciamos neste país, e logo enviamos as respostas pro André. O resultado foi publicado no site da Red Bull, em primeira mão: POR QUE VIAJAR PARA O IRÃ DE BICICLETA

Leia aqui a entrevista na íntegra:


André: O Irã tem a fama de ser um país fechado e inóspito, o que vocês descobriram por lá?

Em nosso Projeto para divulgar o cicloturismo no Brasil, enfrentamos vários preconceitos quanto a viagens de bicicleta, por isso tentamos sempre desmistificar a aventura. Em nossa última viagem, passamos quatro meses pedalando entre Turquia e Irã. Sem sombra de dúvidas, o Irã é muito menos visitado e sobre ele recaem a maior quantidade de mitos. Já vimos escrito em sites de jornalismo muito considerados, que o Irã está entre os países mais fechados do mundo…. A verdade é que, ao contrário de certos países em que nós brasileiros temos que esperar em filas enormes e sofrer constrangedoras e redundantes perguntas e entrevistas para conseguir um visto, para nós e para os cidadãos da maior parte dos países do mundo, o visto para o Irã pode ser obtido no próprio aeroporto, no momento da chegada no país. De onde vem este mito de ser um país fechado? Definitivamente “ser fechado” é um mito. 

Agora uma dica: O visto retirado no aeroporto é válido para um mês, mas dificilmente poderá ser renovado. O visto retirado no consulado (como o que fizemos) também é válido por um mês, mas pode ser facilmente renovado por até seis vezes dentro do próprio país, sem ter que sair e voltar. Nós renovamos uma vez e ficamos no país um total de dois meses.


André: Imagino que o desafio da língua / comunicação tenha sido uma barreira, o que aprenderam?

Nunca é simples compreender um país. Para nós o Irã vive em uma ditadura parecida como a que vivíamos no regime militar. Existe muita censura, inclusive à internet. Vários sites são proibidos e restringidos através de filtros impostos pelo Estado. Não dá para acessar youtube, nem facebook, mas é muito comum que as pessoas tenham “anti-filtro” para acessar todo o conteúdo da net. Para piorar, no Irã a língua oficial (persa) não é escrita no mesmo alfabeto nosso, e não podemos ir aprendendo conforme lemos cartazes e anúncios, como fazíamos na Turquia. Com tudo isso, ficamos surpresos em encontrar mais pessoas falando em inglês no Irã que na Turquia. No Irã, mesmo quem não falava tinha alguma noção e ajudava na comunicação, na Turquia encontramos mais pessoas sem nenhuma noção de inglês, neste caso, tínhamos que conversar unicamente por sinais e mesmo assim era difícil, pois os interlocutores com frequência não gesticulavam e seguiam falando como se pudéssemos nos compreender somente com a fala.

É bom lembrar que em uma viagem de bicicleta passamos por todos os tipos de locais, turísticos, não turísticos, urbanos e rurais. A cada dia precisamos comprar comida e pedir água, então temos que aprender algumas frases para conseguir o que precisamos e sermos gentis e educados.


André: Quais equipamentos utilizaram no Irã?

Escolhemos pedalar com uma bicicleta Specialized Pitch. Dentre vários outros fatores, este modelo possui entrada para os parafusos de bagageiro, reforços para adaptação de descanso, e uma relação coroa K-7 de 22X34, o que ficou excelente em seu aro 27,5. A maior alteração foi a troca do amortecedor por um “garfo seco” (sem suspensão). O resto foram alterações de preferências individuais, como pedais com pedaleiras e selim de gel.

No planejamento geral de nossa viagem, tivemos que fazer escolhas difíceis, tendo em vista a variedade de regiões pelas quais passaríamos e seus diferentes climas nas respectivas épocas do ano. Em nossa última viagem de aventura enfrentamos o inverno no altiplano Boliviano sob temperaturas de até -22 °C e carregávamos cerca de 30 kg de equipamento cada um. Para o Irã apostamos em sofrer um pouco de calor excessivo para não enfrentar, na volta, o começo do inverno nas montanhas da Turquia. Com isso pudemos baixar nosso equipamento pela metade: 15 kg cada um. As temperaturas ao longo da viagem variaram entre 54,4 °C e -1°C. Para as travessias de deserto ou para tomar um bom banho no final do dia, 7,5 litros de água ficavam distribuídos em garrafas pet no garfo e no quadro. No meio da viagem decidimos comprar uma garrafa térmica para apreciar água gelada no final do dia pedalado. Sendo um dos locais considerados como berço da Humanidade, as áreas realmente desertas, sem cidades ou pessoas, não são fáceis de encontrar, mas no Irã é permitido acampar em quase qualquer local, inclusive em praças públicas, e é comum ver as pessoas acampando nos parques e praças das cidades. Sempre nos sentimos muito seguros em nossos acampamentos.


André: O Irã é um país “amigo” da bicicleta (propício para cicloviagem)? Conte algum momento curioso e/ou engraçado que viveram no Irã?

Seria o Irã um país bom para viajar de bicicleta?

Bem, uma das vantagens de viajar de bicicleta é o fato de ela ajudar a quebrar o gelo entre as pessoas, a bicicleta atrai as pessoas e o viajante pode conhecer não somente os locais, mas as pessoas desses locais, que na verdade tem um universo dentro delas. Dos 58 países que conheço considero o iraniano, no geral, o povo mais hospitaleiro que já vi, e ganha de longe do segundo colocado… Muito educados e gentis, praticamente todos os dias ganhávamos alguma coisa das pessoas. Uma fruta, um suco, uma refeição, às vezes as pessoas compravam coisas para nos dar na estrada, por vezes não trocávamos nenhuma palavra, só um sorriso de gratidão por esse carinho tão sincero e desinteressado. Mesmo sem falar inglês tentavam compreender e ajudar. Acreditamos que todos que falavam inglês e que passaram por nós nos pararam para perguntar se precisávamos de ajuda ou de alguma coisa. Aí nos perguntamos, será que um país cheio de ciclovias, todas muito bem sinalizadas, mas com pessoas amargas e carrancudas seria um país melhor para viajar de bicicleta? Essa é uma resposta individual, dentro daquilo que cada um busca com uma viagem.

Pedalar usando véu no verão não foi fácil para a Rafa, mas mergulhar em uma sociedade com cultura própria e milenar tem seu preço, assim como suas compensações. O Irã não tem ciclovias, tem muitos carros e um trânsito sem lei e caótico. Mesmo que tiver que atravessar uma rua de mão única é bom olhar para os dois lados, pois a marcha à ré é utilizada até em grandes cruzamentos, isso sem falar que trafegar na contramão é algo muito comum. Este caos faz com que o trânsito ande lentamente. Quem usa a bicicleta em cidades sabe que é seguro andar no meio do engarrafamento, pois é a alta velocidade que causa a maior parte dos acidentes.

Não aconselhamos o Irã para sua primeira viagem, mas mesmo depois de viajar por tantos países confessamos que estamos maravilhados com todas as experiências que vivemos.

Nosso trabalho agora é conseguir passar um pouco de tudo isso em nosso próximo documentário.


André: Por favor, selecione umas cinco imagens para ilustração. Muito obrigado! Abraços

Bem, essa parte foi difícil e acabamos mandando um pouco mais que cinco imagens! Confira na galeria:


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