VIAJAR DE BICICLETA | ENTREVISTA

Em Novembro de 2018 fui convidada pela Mari, do Blog “Quase Nômade”, para contar um pouco sobre como é viajar de bicicleta. A entrevista se transformou em um post no blog, que você pode conferir clicando aqui.
A seguir, transcrevemos entrevista na íntegra:
Rafa, para você, quais as principais diferenças entre viajar de bicicleta e usando outros meios de transporte (carro, ônibus, avião, etc)?
Gostaria de destacar algumas diferenças principais: a velocidade, a potencialização sensorial e a atividade física. A bicicleta possibilita o deslocamento em uma velocidade natural, onde podemos apreender cada detalhe do caminho com todos nossos sentidos, não só os detalhes visuais, mas também o clima, os sons, os odores e perfumes. A experiência é mais completa.
Nos movendo de forma ativa, ganhamos em saúde e energia, quebrando com o sedentarismo da vida moderna.
Além disso, o interesse e a curiosidade que o viajante de bicicleta desperta nas pessoas é maior que em outros meios de transporte. Chegando a uma localidade certamente as pessoas virão falar com você, e então, além da natureza e da arquitetura, você tem a possibilidade de conhecer mais profundamente a cultura local.
Por último, todas essas características, somadas ao fato de passar o dia a dia da viagem na cadência da pedalada, podem fazer com que o viajante entre em um estado meditativo, onde reflete sobre as experiências vividas e sobre si mesmo. Este estado introspectivo é uma grande porta aberta para transformações pessoais.
Qual foi a sua experiência de viagem em bicicleta mais marcante? E o percurso mais longo?
Minha primeira viagem de bicicleta foi no Caminho da Fé, as constantes subidas me ensinaram na prática o desapego: carregar somente o essencial nos faz ir mais longe. Na Escandinávia, minha primeira viagem de aventura de bicicleta, descobri em mim o gosto por viver na natureza e de forma nômade. Nos Himalaias indianos, a vastidão das paisagens, a cultura e religiosidade das montanhas tibetanas me proporcionaram experiências interiores muito marcantes. No Altiplano Andino, enfrentei adversidades climáticas que puseram a prova minhas capacidades físicas e me fizeram mais forte. Já em nossa última viagem pelo Oriente Médio, a experiência cultural foi transformadora.
A cada viagem temos a possibilidade de somar experiências, e cada uma nos toca de uma forma diferente, dependendo das características do lugar visitado e da nossa pré-disposição em aprender e nos transformar.
Desde 2008 vivo de forma nômade, alternando o mapeamento de percursos em bicicleta no Brasil e viagens de bicicleta no exterior. A viagem mais longa em quilometragem foi pelo Oriente Médio – mais de 5100km pedalados em 4 meses, entre Irã e Turquia.
Normalmente, quanto tempo é gasto para cada roteiro (locomoção + estadia)?
Não existe uma regra. Nós dedicamos nossa vida a essa atividade. Por outro lado, o cicloturismo vem crescendo no Brasil, e vemos pessoas viajando desde um final de semana prolongado até grandes viagens de volta ao mundo, com duração de mais de 3 anos.
No cicloturismo, o tempo é uma grandeza mais importante que a quilometragem. Quanto mais tempo você puder dedicar à viagem, mais possibilidades terá de viver e aprender com as experiências do caminho.
Como você vê a questão da segurança quando está pedalando na estrada? Usa apenas rotas preparadas para o cicloturismo?
Acredito que no Brasil o maior fator de risco para quem quer viajar de bicicleta é a ditadura do automóvel. Criou-se uma cultura de prioridade do carro, em detrimento da legislação de trânsito, que diz que o “maior” deveria cuidar do “menor”. No caso, a prioridade deveria ser para quem se locomove a pé e de bicicleta.
Temos percebido uma mudança sutil, que está humanizando o trânsito, abrindo mais possibilidades para aqueles que querem se deslocar de forma ativa.
Nós sempre buscamos rotas alternativas, aliás, esse é o nosso trabalho aqui no Brasil. Nós já mapeamos mais de 6000 km de caminhos que julgamos interessantes para se viajar de bicicleta, desde o Rio Grande do Sul até o norte de Minas Gerais. Eles estão todos descritos detalhadamente em nos nossos Guias de Cicloturismo. No momento estamos escrevendo um novo Guia, mapeando roteiros que farão a conexão até o Nordeste.
Já viajou sozinha de bike? Para onde?
Sim, já percorri o Caminho da Fé e o Caminho Velho da Estrada Real. Esse tema é interessante.
Ao contrário do que se imagina, as pessoas, ao verem uma mulher viajando sozinha, se tornam ainda mais solidárias e acolhedoras.
São inúmeras as belas histórias que vivemos e também que ouvimos de outras viajantes.
Tem alguma dica para quem planeja encarar uma viagem sobre duas rodas pela primeira vez?
No meu ponto de vista, a principal dica é estar preparada para as descobertas e imprevistos do caminho. São eles que constroem a história da viagem e a nossa experiência pessoal.
Claro, quanto mais bem treinada uma pessoa estiver, mais poderá desfrutar da viagem, mas acredito que ter o coração aberto para o novo nos faz abraçar com alegria a realidade e as vivências do caminho, aprender com ele e nos transformar. Em nosso site mantemos uma seção atualizada de dicas práticas para quem quer viajar de bicicleta, com textos e vídeos.
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